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O acesso ao livro no Brasil




Quero começar este pequeno artigo fazendo duas perguntas para vocês:


- Vocês já observaram como os livros publicados no Brasil são geralmente mais bonitos? Quantas vezes você não vê uma edição americana de algum livro, original, e a brasileira tem a capa com design mais atraente e sofisticado, a edição mais refinada, em comparação com uma americana que por vezes nem tem orelha e é impressa em papel tipo jornal?





- Vocês já se perguntaram por que é tão forte no Brasil essa cultura de não gostar de emprestar livro, ficar com ódio de quem amassa livro e todos esses memes que vemos todo dia nas redes sociais em IGs literários e grupos de leitores?




Apesar de sempre ter lido bastante, nunca fui do tipo que acha que livro não se rabisca, não se dobra. Eu virava a capa, sublinhava, dobrava o canto de cima da página, deixando muita gente horrorizada ao meu redor. Pra mim, o conteúdo do livro sempre se sobrepôs em importância ao objeto livro. Isso provavelmente se deve ao fato de eu ter sido a vida toda uma pessoa privilegiada e sempre pude comprar os livros que eu queria ler. Embora eu entendesse que livro não era barato como um lanche (hoje muitos ebooks são!), meus pais tinham condição de comprar e incentivavam a leitura, então, para mim, não era muito difícil obter novos livros. Mas isso é raro.


Acontece que essa obsessão com o objeto livro se tornou tão cultural que mesmo pessoas que têm dinheiro sobrando para comprar muitos livros mantêm o mesmo tipo de atitude de não emprestar e considerar os livros intocáveis. Parece que no Brasil ninguém pensa que livro é feito pra ser acessível, circular com facilidade, e não como se fosse um diamante de 128 quilates.


Só que, pelos preços de hoje, é meio isso mesmo que acontece no Brasil, né? Eu comprei recentemente um livro de uma autora nacional, um livro pequeno não só de formato, mas de quantidade de páginas também, tem umas 120, se não me engano, e publicado pelo que eu considero uma editora de médio porte. O preço do livro? Quase R$50. Com o frete, passou de R$50. É cinco por cento do salário mínimo, gente, e é só UM livro.


Dá pra julgar quem compra livro na Amazon porque o preço baixou de R$40 pra R$14 e frete grátis? Eu odeio o Bezos mas eu compro. Compro o livro de R$50 da autora nacional, direto com ela, e compro o livro da editora grande/autora americana por R$14 na Amazon. E compro porque posso e novamente, repito, isso é raro. Eu sou privilegiada.


De tudo isso, só se pode concluir uma coisa:


O livro, no Brasil, é um produto de elite.


Sim, o ministro Paulo Guedes tem razão! Dói concordar, né?


Pois justamente. Qualquer governo minimamente sério deveria desejar mudar isso. Ah, mas não, o governo atual quer intensificá-la! A elitização do livro (e consequentemente do conhecimento!) é projeto de manutenção de ignorância. E qualquer pessoa que se diz a favor da educação do povo brasileiro deveria ficar ultrajada com isso.


Nós precisamos da indústria do livro, precisamos apoiar a recuperação desse mercado e sua urgente e necessária renovação. Ser contra a taxação do livro é obrigação de todo mundo que gosta de ler - e de quem gostaria que mais pessoas tivessem acesso à leitura.


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